Saí de casa para comprar pão. Pensei em ir a pé: Aproveito o sol, vou e volto bem mais rápido e ainda poupo um dinheiro, já que os tempos andam bicudos. Botei os óculos de sol que, em certa ocasião, herdei de minha mãe. Coloquei-os e saí para dialogar com o astro rei.
Ao abrir a porta do prédio e deparar-me com o calor e a claridade, vejo do outro lado da rua o cachorro da vizinha. Um legítimo cachorro de novela. Não sei sua raça e nem idade. Pra mim bicho é lindo e querido. Isto basta. Pois o cachorro da vizinha, como ia dizendo, é daqueles finos. Grande, pêlo branco sedoso. Uma peça rara e majestosa. Um lindo cão pertencente a uma família honesta e querida. Minha única objeção a ele é seu nome: Saddam. Como diria um amigo de um amigo meu para contrariar a todos: “Tá certo!” E ele estava deitado no chão, com a cabeça escorada num ferrinho horizontal do portão da casa. Assim, com uma cara de paisagem, como chamo. A preguiça batendo na alma.
Mas como meu objetivo era chegar ao mercado, fui andando. Um mercadinho perto de casa, desses em que as pessoas conhecem a gente. Fui pensando no meu trabalho e no cachorro. Caminhei olhando o outdoor da coca-cola e vendo os restos de verde que restam no bairro onde moro
Chego no mercadinho e o dono do negócio, ao telefone, já me abana. Era o meu amigo Nenê. Abanei e fui direto para a parte do açougue e padaria. E eu tinha uma missão: três reais no bolso somente, mas somente, para comprar pão. Antes de sair de casa eu já havia questionado a diarista que todas as terças-feiras visita a minha casa:
- Marga....(seu nome é Margarete)...
- Mmmmm. (Ela balbucia muito mais do que fala)...
- Tu acha que com três reais eu compro pão aqui no centro? Porque tu sabe, né, aqui o troço anda caro.
- Pois é. Lá no meu bairro com três reais dá pra comprar 30 pãezinhos!
- Sério Marga???? Então um dia te levo e aproveito pra comprar pão.
- Mmmmm.
Já diante dos pães cheirosos eu abri o jogo com o cara que pesava os pães. Cara não, guri. Eu o conheci quando ele ensacava as compras, no mesmo mercado. Agora ele já casou e trabalha no açougue-padaria. Uma grande evolução. Olhei pra ele e disse:
- Amigo. Tenho três pila. Quanto dá de pão?
- Dá 15, 20 cacetinhos, dona Roberta.
- Tudo isso? Opa, então o negócio não anda tão mal. Ainda está caro! Mas pensei que estava mais... Me dá só oito!
Pra quem chegou para pedir quatro, já saí no lucro. Ainda no final comprei um chocolatinho de trinta e cinco centavos e de lambuja, por ser uma cliente simpática, ganhei um desconto de cinco centavos. Enquanto eu pagava escutei a rádio que estava sintonizada no local. Um ouvinte tentava passar a perna no locutor, imitando um alemão. Quando o locutor, até então garboso, como todos os locutores, quase perdeu a compostura, o falso alemão desligou o telefone. Chorei dando risada e fui embora.
Voltei pra casa balançando a sacolinha de pães e pensando que a vida é muito mais tranqüila do que a gente pensa. Nós é que a complicamos muito.
5 comentários:
Uhuuuuu!
Realmente, a gente complica, né?!
Obs.: adorei o "cachorro de novela"!
Bjus, Gio
Consegui comentar!
Às vezes nas sombras das coisas banais e rotineiras se encontra aquele pedacinho doce de sonho e de felicidade.
Beijos ;)
P.S.: O chocolate era preto ou branco?
O chocolate era preto... hehe.
Amei!!
Gabi
Postar um comentário