Trocando o cajueiro pela mangueira
Lá pelos idos de 1920 o cronista brasileiro Humberto de Campos escreveu que o Brasil é muito “hospitaleiro” com os seus hóspedes. Se o hóspede quer nosso ouro, nós o damos, se nosso hóspede odeia uma árvore, nós a trocamos, e assim vai. Até que um dia a gente fecha os olhos para tudo e os nossos hóspedes levam embora tudo o que temos de melhor.
Renan Calheiros, longe de ser um hóspede, parece mais um a levar o resto do que temos (ou tínhamos) de bom. Levou a ética, levou o decoro e, ao que parece, levou nosso dinheiro. E, ainda, para o desespero de muitos conquistadores inveterados, engambelou uma linda jornalista, com quem teve uma filha, a qual ele engambelou também. Agora fica desfilando pelo chique chão encarpetado do senado como se nada tivesse acontecido. Com uma cara de honesto (com a qual, aliás, me enganou por anos). O Senador Pedro Simon, que é um chato, mas que pelo menos fica cobrando e incomodando os arrogantes-mor do poder, disse, mais ou menos assim: “Depois de tudo o senhor não vai renunciar”??? E o pior é que ele não quer renunciar mesmo. Se renunciar, assume que gastou muito mais do que ganhou.
Ai, ai, ai.... e nós aqui nessa vidinha pacata.
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A Polícia Federal concluiu essa semana uma diferença equivalente a 600 mil reais, no que refere ao que o senador declarou e ao que foi achado em sua singela papelada. Seria uma diferença de 511 cabeças de gado que não consta nas declarações do presidente do Senado brasileiro.
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O senhor Senador ainda está metido em mais uma encrenca: as notas fiscais das fazendas que ele apresenta como origem do gado, não batem com as fazendas apresentadas nas 100 GTAs (Guia de Trânsito Animal) as quais ele enviou os devidos comprovantes.
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Para fechar com chave de ouro, também há uma divergência entre o nome dos compradores do gado. A Polícia Federal diz que os nomes apresentados nas notas do senador são diferentes dos nomes que constam nos documentos das GTAs.
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Para terminar, cito de novo uma frase de Humberto de Campos, um dos melhores jornalistas que esse país de marajás já teve. Ele diz que o homem é, por si, um desonesto. E sugere ironicamente que se um falcatrua roubar, que pelo menos este não cause danos para a sociedade. “O segredo dos bons governos não consiste, pois, em suprimir os desonestos, porque ninguém luta contra a fatalidade; mas em conservar a harmonia do conjunto sem violência sobre os indivíduos”. O que não parece ser o caso do nosso excelentíssimo presidente do Senado Renan Calheiros.
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