O meu mui próximo relacionamento com as putas
Tenho um relacionamento ímpar com as putas. Não que eu seja uma, longe disto. Mas também não tenho preconceito nenhum. Em meus muitíssimos textos escritos sobre esta classe trabalhadora, sempre reitero meu máximo apreço pela dignidade destas mulheres (ou homens, hoje não se sabe de mais nada). É uma profissão de vida fácil, mas ao mesmo tempo, de muita humilhação.
O caso é que ultimamente eu ando meio abatida. Em frente à minha casa havia uma faceirote casa dos prazeres. À meia tarde fuscas, brasílias, voyages, opalas e afins estacionavam na esquina onde moro. Aos poucos, a casinha de madeira, branca e marrom, ia ficando cada vez mais alegre e barulhenta. Risos de mulheres, cervejas Skol a sete reais a garrafa e por aí ia. E a Maria, a puta chefe, enchendo os bolsos de dinheiro. As outras, subalternas, além de ganharem seu dinheirinho, ainda iam ao Armazém do Danilo, bodeguinha à frente do estabelecimento, para comprar amendoim aos clientes. Escrevo isto porque eu mesma vi. Numa destas minhas tardes de folga fui comprar uns pinhões no seu Danilo e vi com os olhos que um dia esta terra há de comer: uma puta toda engraçadinha comprando amendoim... e o amendoim ainda era de uma marca bem famosa.
Pois agora a tristeza que se atenua sobre mim é que destruíram a casinha dos prazeres para construir um monumental e pós-moderno prédio. Um prédio gigantesco, de muitos andares. Acabou-se o tempo, para mim, em que eu sentava em frente ao meu prédio, comprava uma cervejinha e admirava o movimento das putas. Agora a única coisa que acontece é eu ouvir, das 8 da manhã às 6 da tarde, o barulho incessante de grandiosos equipamentos perfurando a terra e erguendo monumentos pesadíssimos feitos de concreto. A construção vai a todo o vapor. Todos os gatinhos que ali viviam (gatinhos, literalmente. Falo do animal) foram-se embora, tristes. Um dia fui desolada no seu Danilo dizer que “seu Danilo, que triste, as putas levantaram o circo e se foram”. Ao passo que o seu Danilo, do alto de sua calma, embalando minhas compras me disse: “será melhor para a vizinhança. Todos viveremos na paz”. Tentei argumentar um “mas seu Danilo...”, no entanto era tarde. Seu Danilo estava resoluto de que a saída das senhoras e senhoritas comerciantes seria melhor para nós.
Agora quando vou para o trabalho, passo atrás do Bourbon, aqui em Passo Fundo. Pois atrás do Bourbon é um ponto quente. Sempre tem uma senhorita de saia curta ou calça apertada, de cabelos soltos e batom bem forte. Elas estão sempre sozinhas, desfilando numa passarela imaginária que se resume a toda a parte de traz do hipermercado. Eu não me agüento: passo e buzino. Não que eu goste, sexualmente, de putas. Ao contrário, prefiro um homem, de preferência de pé grande, olhos verdes, moreno e de barba. Mas quando passo, meus dedos fogem do meu controle e rumam para a buzina. Seguido abano para as putas. Mas só abano e sigo em frente. Uma descontração para mim e para elas. Quando elas vêem que quem está no volante é uma mulher, o sorriso delas, geralmente, diminui.
4 comentários:
Parabéns!! A cada dia tu cresce mais como escritora!!! Viva a Saliência!!! Viva Robes!! Viva Por muito tempo!!!!
da amiga, Fabi beltrami
É, as coisas andam absurdas mesmo. Se a construção civil, aliada a todos os outros vértices do modernismo, não parar com sua gana por dinheiro e poder, daqui uns dias não teremos uma zona pra tomar uma cerveja com uma puta no colo!
Mas pelo menos podemos voar com segurança!
Ah, que bosta...
(Agora pensei que a solução para isso seja a zona delivery, sem lugar fixo)
Pois é. Aqui em POA eu me orgulhava de morar em um ap que tinha passarinho na janela. Agora começaram a construir um arranha-céu e eu, imitando o passarinho, penso em me mudar.
hshshshshshshshhsshsh, vem para cá conhecer a Farrapos! hshshshshs tu não ías parar mais de buzinar! hshshsshhs
Abração!
Haidi
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