18.5.07

Os leitores choram de tédio!

Latinistas búlgaros. Assim parecem a maioria dos jornais brasileiros. Formais, metódicos, sem-graça. Pensam que os leitores são uns idiotas.

Calma! Não queiram me trucidar igual muitos fizeram com o texto de Rodrigo de Andrade. Não tenho nada contra latinistas, nem búlgaros. Nem contra formais. Mas latim demais, erudição demais e formalismo demais, mata. Se tudo for dosado, beleza. Caso contrário, me desculpem, mas mata. E de tédio.

Os jornais brasileiros, ou, volto a dizer, a grande maioria deles, mata o leitor. Aborrece. Faz fechar o jornal depois de ler as manchetes. E que triste escrever tudo aquilo para, apenas, chamar a atenção pelas manchetes e não pelo conteúdo. Ou, ainda, fazer o leitor ler o lead (uma ejaculação precoce, como diz o nosso grande amigo João Carlos Tiburski) e abandonar o texto porque já sabe tudo ou porque perdeu a graça. Chatice! Os jornais, além de informar, precisam fazer pensar. E, se isso não for feito, não têm porque existir. Grandes jornais nunca se transformam no banheiro do cachorro.

O verdadeiro jornalismo precisa se despir do moralismo, da castidade, da técnica pura e solitária. É necessário um jornalismo explícito, mas também implícito. Objetivo e subjetivo. Os leitores não são burros! Eles participam do processo de “interação social”. O ponto-de-vista do jornalista precisa interagir com o texto e também com o leitor. Por que não mostrar os detalhes de um fato? Por que não contar histórias? É necessário equilibrar a técnica jornalística e a contação de histórias. Adoraria ler um texto que misturasse os recursos de escrita: narração, descrição, exposição. Por que não, Senhor, aparecer o ponto-de-vista de quem assistiu ao episódio? Por que não, o repórter ser um personagem de seu próprio texto? Por que não a exposição de cenas e o diálogo numa reportagem do cotidiano? Isto é realismo social de não-ficção, senhores.

As roupas do personagem, a expressão, como os objetos estão dispostos no lugar. O bom jornalista conta histórias. Repara, observa. Tem o dom de levar o leitor para dentro do texto, para que ele se sinta, também, uma testemunha do fato. O objetivo dos jornais não deve ser apenas a venda ou a informação primária. Os jornais precisam ter o objetivo de proporcionar leitura de qualidade, profundidade de informação, detalhes de fatos, literatura, criatividade e genialidade. Tudo ao preço de R$2,50.

Salvem os pontos de exclamação em matérias jornalísticas! Salvem os travessões! Amem os palavrões, as expressões do dia-a-dia, a linguagem de cada um! Salvem Tom Wolfe, o criador do Novo Jornalismo, que reitera a presença da literatura dentro do jornalismo através da “contação passo-a-passo” de um fato. Salvem o Jornalismo Gonzo, que conta os fatos através de uma história vivida pelo próprio repórter. Regozijem o repórter mais célebre do Gonzo Jornalismo: Hunter Tompson. Era um comum, como a maioria de nós, e contava as suas histórias. E, pra não ficar longe, regozijem o passofundense Tarso de Castro, que numa sociedade puritana escreveu “BICHA! BICHA!”, e quase enlouqueceu a sociedade. E ainda bem que enlouqueceu...

Está na hora de quebrar os padrões. Com este texto não quero criticar colegas, parceiros. Mas sim a forma, o sistema, o padrão. Esquecer um pouco a técnica! Virar as cadeiras das redações. Bom, para não me matarem, tudo bem, conservem a técnica, mas dêem liberdade para os repórteres poderem criar! Para estes testemunhas contarem a história do jeito deles, com a autoridade deles, com o trabalho de criatividade deles. As árvores podadas já estão em extinção. Está na hora de preservá-las! Caso contrário, a fala de Tom Wolfe, proferida alguns anos atrás, pode voltar, no tempo presente, ao jornalismo brasileiro atual: “Os leitores choravam de tédio sem entender por quê. Quando chegavam àquele tom de bege pálido, isso inconscientemente os alertava de que ali estava de novo aquele chato bem conhecido, ‘o jornalista’, a cabeça prosaica, o espírito fleumático, a personalidade apagada. [...] Isso não tinha nada a ver com objetividade e subjetividade, ou com assumir uma posição ou ‘compromisso’ – era uma questão de personalidade, de energia, de tendência, de bravura... numa palavra, de estilo...”

Uuuuuuuuhhhhhhhhhh!! O que vocês acabaram de ler não foi uma alucinação, uma visão, uma historinha sem-fundamento. Isso é a raiz de um jornalismo. Existente, forte. Sem-espaço na grande mídia. Mas guerreiro! Existe outro jornalismo fora do que as pessoas estão acostumadas a ler, ver, ouvir. Um jornalismo que, apesar das surras constantes, sempre acha uma brecha para respirar e viver! E que procura novas pessoas que possam atravessar a rua e conhecer os dois lados da avenida. Latinistas búlgaros podem se relacionar bem com gente comum. Tudo é uma questão de linguagem.

P.S - Texto publicado originalmente no Jornal CadaFalso.

3 comentários:

Anônimo disse...

Robes!!!!
texto do caralho...
tu é do caralho!!!!!!!
beijo!!!!!

Jean Scharlau disse...

Gostei muito. Parabéns! Mas será que não tem mais uns brasileirinhos, além do Tarso, que possam abrilhantar ainda mais tuas referências de Jornalismo? Deixo esta pergunta como uma sugestão para resposta pública tua, quem sabe em outro texto tão bom quanto este.

Roberta Scheibe disse...

Oi Jean. Aqui usei a influência do Tarso de Castro porque ele é de Passo Fundo, e esse ano haverá um evento sobre ele na Jornada de Literatura em agosto. Só por isso. Mas claro, tenho referências excelentes de Tom Wolfe, Truman Capote, Norman Mailer, Edvaldo Pereira Lima, Chico Sá, Geneton Moraes Neto, entre outros. Quem sabe sai mais um texto. hehe.