Carlos Heitor Cony fala do processo de criação de crônicas
* Mais uma entrevista realizada e publicada apenas academicamente. Eis aí a conversa que aconteceu no dia 03 de maio de 2002, no Centro de Eventos da Universidade de Passo Fundo, durante evento do Curso de Letras da UPF.
Agora em 2007 ele completa 80 anos. Parou de escrever ficção em 1952 e voltou a romancear em 1985. No entanto, sua tarefa diária de escrever para jornais é contínua e ultrapassou as barreiras, inclusive, da Ditadura Militar. Carlos Heitor Cony, escritor e cronista da Folha de São Paulo, teceu livros sobre Jucelino Kubitcheck, um livro-reportagem relacionado à primeira visita do Papa João Paulo II ao Brasil e publicou, entre outras obras, “Pilatos”, um de seus livros de maior sucesso. Durante quase 30 anos dedicou-se exclusivamente ao jornalismo.
O menino Carlos Heitor, que era fã de Monteiro Lobato, ganhou o primeiro livro aos 8 anos. Ele diz que adora livros porque amou Monteiro Lobato. Afirma também, com sua voz calma e arrastada, que o gosto pela leitura vem da família. “Tem que começar a ler desde pequeno”, diz.
Para Cony, o livro tem que ter aparência de livro, não de revista. Nesta entrevista, Carlos Heitor Cony falou sobre literatura, jornalismo e crônica.
Como é o processo de criação de suas crônicas?
Muitas vezes, quando o cronista vai para a máquina de escrever, agora o computador, ele nem sabe o que vai escrever. Mas sai. Isso porque o cronista cria uma disponibilidade para ficar com uma espécie de antena para receber as expressões do tempo, do cronus. Já o romance tem que curtir a história, penetrar nos personagens. Na crônica até uma mosca voando pode dar assunto.
No jornalismo, quando não se tem assunto num dia, é melhor. Não ter assunto é assunto. É aquele negócio: Você acorda, abre a janela, vê aquele dia bonito, é um assunto. Ou abre a janela e não vê nada, é outro assunto. Uma vez o Rubem Braga escreveu que abriu a janela e viu um homem nadando. É uma crônica. Agora, no outro dia ele não pode dizer que viu de novo um homem nadando. Aí não dá.
A crônica é fiel aos fatos reais?
Não necessariamente. A crônica comporta tudo. É como um gênero “ônibus”: entra todo mundo. Não é um carro onde só os donos e os convidados dos donos entram. A crônica entra e sai, como um ônibus. A função da crônica é justamente levar o leitor a um determinado ponto.
Qual o gênero literário que o você gosta de escrever?
A crônica é um gênero que pertence ao mesmo tempo ao jornalismo e a literatura. Mas tem um tempo. E o romance supera o tempo. A maior alegria para um romancista é, depois de morto, continuar sendo reeditado. E para o cronista quanto mais dentro do tempo conseguir ficar, melhor.
Como você vê o jornalismo hoje?
E agora recentemente o jornalismo tomou uma decisão com relação ao Collor. Isto analisando o jornalismo de forma Macro, que sempre acompanha o tempo. No micro o jornalismo é sórdido. Os jornais se profissionalizaram como empresas, e eles vivem com o positivo, não no vermelho. O jornal está comercial, mas no fundo é uma empresa. Antes o jornal era uma coisa romântica. Você fazia o jornal pra defender suas idéias.
Mas as empresas jornalísticas hoje tem uma preocupação muito grande com os serviços, é mais social do que antes. Antigamente o jornal era só opinião. O primeiro jornal do Chateaubriand foi para defender o Faquar, que era um estrangeiro que veio para explorar a Amazônia. O jornal não tinha noticiário nenhum (o do Chatô). A guerra corria feia na Europa e ele não davam notícia nenhuma, só defendia a situação dele.
Quais são os seus expoentes na literatura?
Reprodução da foto de Claudio Tavares
Um comentário:
Gosto muito dos textos do cony. Muito legal a entrevista!
MS
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