Hoje, eu fui o poder
Comecei uma carta relatando tudo o que sinto, tudo que espero, tudo que eu não verei, se algum dia essas premonições virem a acontecer. Chegar a essa decisão não foi fácil, mas cheguei ao topo e sem ter pra onde ir resolvi me atirar dessa longitude. Resolvi parar a bendita carta, tem uns erros de português que preciso rever e procurar as benditas balas, ou projétil como diriam os meus aliados.
Alguém andou mexendo em meu gabinete, será que sou tão previsível que já suspeitaram da minha vontade e sumiram com as balas?
Já olhei por toda a mesa, fui até o armário à esquerda no mesmo pote de onde tirei esse papel e essa caneta falhante azul, e nada. Resolvi olhar no fundo falso da minha foto na parede, e nada também. Joguei tudo o que tinha nas gavetas, revirei toda a sala e nenhuma bala!! Como o que achei foi somente papel e caneta, resolvi escrever pra reorganizar minhas idéias.
Como vocês bem sabem, sou um homem do povo, saí da barranca e controlo hoje uma imensidão ainda carregado pelo povo. Sou um homem, um estadista, um Deus! Passar por tudo e por todos, e assim perder o poder não admitirei, ninguém é homem o suficiente para me tirar daqui – só mesmo eu! (Cadê essas balas?)
Eu choro porque não tem solução, como o país sobreviverá sem mim? Eu que o conduzi aos seus mais belos momentos de democratização. Não conseguirão viver sem O Meu Brasil, e Eu sem o Poder! A pressão nas tribunas me deixa amarrado pela minha faixa presidencial, me figurando com um alvo gigantesco, pois querem tirar o meu direito. Logo eu...(cadê essa maldita bala)... que consegui dar um golpe em mim mesmo, nem Napoleão teve tempo de pensar nessa.
Mas o presente é esse e ponto. Agora só penso no futuro...(e nas balas)... como será o meu futuro? A minha casa na barranca terá o cheiro da minha amada, ou mesmo lá terei que ouvir discursos daquele rapazote boêmio e do outro da fala estranha? Pois já vejo que eles arrumam o seu cantinho eterno no meu jardim da paz. O meu casebre terá assinatura ilustre e todos pisotearam as minhas façanhas como se eu fosse comum a eles. Esse é o meu destino se eu encontrar as balas.
Aqui!! Pronto, agora sim!! Encontrei-as dentro da arma, realmente sou mesmo previsível. Deixa-me voltar à carta, antes de decretar o fim da minha era...Quer saber, eles vão modificar mesmo ela, então deixo um último trabalho pra entrar para a História. Só vou anotar essa daqui que foi boa, eles podem usar depois. O que seria do poder sem mim.
Guilherme Cruz
5 comentários:
Não sei porque pensei no Getúlio Vargas. hehehehehe.
Belo texto Gui!
oi, Robes.
tô adicionando teu blog na seleta lista de "amigos" do meu. se tiver interesse, faça o mesmo, ok?
(espero que lembre quem eu sou, haha)
abração
Idem aqui, dona Roberta, haha.
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O Gui arrasou!
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