7.3.08

"Resenha Pessoal"

O “Beatle George” de dentro de cada um

Desde novembro do ano passado, não consigo parar de ouvir “Beatle George” de Júpiter Maçã. Essa é a música que mais me encantou nesses últimos tempos, talvez porque a canção tem o poder de fazer com que a gente se pareça com o personagem da música.

“Beatle George” faz parte de um finíssimo compacto em vinil com apenas mais uma música: “Scotch and Coffee at Regent Street”. As duas elegantes faixas são de autoria do sempre inesperável e inspirável Júpiter Maçã, produzido por ele mesmo e também pelo Thomas Dreher. O compacto é assinado pela Monstro Discos e Nolandman.

Senti vontade de escrever sobre a música não porque entendo de alguma coisa. Pelo contrário: entendo pouco de música, de rock e de letra. Mas entendo do que gosto. Esses dias resolvi “fazer bem a quem me ama”. Botei um tênis e fui caminhar ao redor de uma praça de pessoas felizes, cachorros felizes, árvores felizes e sombra feliz. Fui pensar, para ver se voltava pra casa mais calma dos “realismos sociais” que cutucavam o meu dia. Enquanto caminhava, lá pelas tantas o meu mp3 me trouxe com alegria os primeiros acordes de uma melodia gostosa, que, para mim, serve como ápice da exultação. E à medida em eu deslizava pelas calçadas da praça, sentia-me inebriada pela paisagem e pela letra da música que parecia feita pra mim:

“Eu deveria parar de beber
Porque ha, eu não estou
Fazendo bem a quem me ama

Devia me converter ao induismo
Comida vegetariana, mantras e krishna
Ha, aonde foi parar aquele menino
Que ha, queria cantar como o beatle george
Aleluia, rare krishna,
Krishna, krishna, aleluia

Ha, aonde foi parar aquele menino
Que ha, queria cantar como o beatle george
Aleluia, rare krishna,
Krishna, krishna, rare rare
Rare rama, rare ra
Rama rama, aleluia”.

Enquanto Júpiter cantava eu pensava que cada frase dessa canção já passou pelos meus planos de mudança. Já quis parar de beber, pensei em me converter em algo legal e não muito chato e careta e até hoje luto para virar vegetariana, mas quando vejo uma carne todo o meu esforço vai por terra. E, também, já quis cantar como Beatle George. Me contentaria com Marcelo Camelo, ou Rita Lee, mas sei que nem com cursinho de músicas para chuveiro eu me sairia bem.

Essa música, enquanto letra, me mostra que não adianta querer ser o que não se é; porque senão, depois disso, vem o arrependimento e a decepção.

No meu mp3 “Beatle George” acabou e eu a botei pra tocar de novo. Afundei a praça. Andei, andei, pensei. Pensei em todas as coisas e todas as possibilidades que nos fazem crescer, e (des) acreditar na vida e nos seus detalhes. Assim como as histórias da vida nos fazem ser personagem de um “cordel de amor sem fim”, igual ao teatro da Trupe Sinhá Zózima, a vida nos prega peças que a partir de uma certa idade a gente já pode pensar sobre ela, vangloriá-la, contestá-la ou apenas lamentá-la. Um lamento de nós mesmos, na esperança de mudar.

Caminhei pela praça tentando mudar. Mas, numa certa altura, sentei num banco e acendi um cigarro. Recomecei a ouvir a música no mp3. Têm coisas que não se mudam.

Um comentário:

Anônimo disse...

Voce ja viu Across the Universe? Só musica dos Beatles, muito legal...