12.3.08

Crônica

Hoje, além de ir ao poder, um texto de Guilherme Cruz:


Hoje, eu fui o poder

Hoje é uma quarta-feira, sempre gostei das quartas-feiras, soa melhor do que segunda-feira ou outra feira qualquer. No meu gabinete estou finalmente só, acredito que também sou o único em todo prédio. Pra falar a verdade há meses estou só, espremido pelo antipoder da oposição - estou me distanciando de mim mesmo.

Comecei uma carta relatando tudo o que sinto, tudo que espero, tudo que eu não verei, se algum dia essas premonições virem a acontecer. Chegar a essa decisão não foi fácil, mas cheguei ao topo e sem ter pra onde ir resolvi me atirar dessa longitude. Resolvi parar a bendita carta, tem uns erros de português que preciso rever e procurar as benditas balas, ou projétil como diriam os meus aliados.

Alguém andou mexendo em meu gabinete, será que sou tão previsível que já suspeitaram da minha vontade e sumiram com as balas?

Já olhei por toda a mesa, fui até o armário à esquerda no mesmo pote de onde tirei esse papel e essa caneta falhante azul, e nada. Resolvi olhar no fundo falso da minha foto na parede, e nada também. Joguei tudo o que tinha nas gavetas, revirei toda a sala e nenhuma bala!! Como o que achei foi somente papel e caneta, resolvi escrever pra reorganizar minhas idéias.

Como vocês bem sabem, sou um homem do povo, saí da barranca e controlo hoje uma imensidão ainda carregado pelo povo. Sou um homem, um estadista, um Deus! Passar por tudo e por todos, e assim perder o poder não admitirei, ninguém é homem o suficiente para me tirar daqui – só mesmo eu! (Cadê essas balas?)

Eu choro porque não tem solução, como o país sobreviverá sem mim? Eu que o conduzi aos seus mais belos momentos de democratização. Não conseguirão viver sem O Meu Brasil, e Eu sem o Poder! A pressão nas tribunas me deixa amarrado pela minha faixa presidencial, me figurando com um alvo gigantesco, pois querem tirar o meu direito. Logo eu...(cadê essa maldita bala)... que consegui dar um golpe em mim mesmo, nem Napoleão teve tempo de pensar nessa.

Mas o presente é esse e ponto. Agora só penso no futuro...(e nas balas)... como será o meu futuro? A minha casa na barranca terá o cheiro da minha amada, ou mesmo lá terei que ouvir discursos daquele rapazote boêmio e do outro da fala estranha? Pois já vejo que eles arrumam o seu cantinho eterno no meu jardim da paz. O meu casebre terá assinatura ilustre e todos pisotearam as minhas façanhas como se eu fosse comum a eles. Esse é o meu destino se eu encontrar as balas.

Aqui!! Pronto, agora sim!! Encontrei-as dentro da arma, realmente sou mesmo previsível. Deixa-me voltar à carta, antes de decretar o fim da minha era...Quer saber, eles vão modificar mesmo ela, então deixo um último trabalho pra entrar para a História. Só vou anotar essa daqui que foi boa, eles podem usar depois. O que seria do poder sem mim.

Guilherme Cruz

5 comentários:

Roberta Scheibe disse...

Não sei porque pensei no Getúlio Vargas. hehehehehe.

Belo texto Gui!

Daniel Dalpizzolo disse...

oi, Robes.

tô adicionando teu blog na seleta lista de "amigos" do meu. se tiver interesse, faça o mesmo, ok?

(espero que lembre quem eu sou, haha)

abração

Anônimo disse...

Idem aqui, dona Roberta, haha.

Anônimo disse...

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Anônimo disse...

O Gui arrasou!