6.3.07

Sydney Sheldon e as virgens

Aos 89 anos, Sidney Sheldon deixou viúvas as virgens e as senhoras aparentemente comportadas. O autor que mais mexeu com o imaginário das mulheres morreu na terça-feira da semana passada, dia 30 de janeiro.

Ele escrevia aqueles romances açucarados que todas as inocentes (ou não) já leram numa noite quente de verão. Sheldon iniciou as narrativas (em texto) que mais tarde seriam característica dos seriados e novelas de televisão: deixar o leitor bem louco no final de um capítulo. Fazer com que ele ficasse maluco para ler o segundo capítulo e assim por diante. Sidney Sheldon conseguia com que seus leitores lessem meio livro numa noite só. E suas obras geralmente tinham mais de 500 páginas.

No entanto, este autor americano tinha uma forma clichê de escrita. Assim como Janet Dailey e Danielle Steel. A forma é a seguinte: uma mulher (ou um homem) é linda e maravilhosa. E aí ela começa a sofrer, ter perdas, ser uma coitada. E então ela dá a volta por cima de um modo muito astuto. Tudo isso com descrições textuais de um personagem belo, frágil e muito, mas muito sexy.

Os leitores que amam esse tipo de autores, na maioria das vezes, são mulheres. Porque as mulheres são açucaradas. Gostam dessas coisas de chorar. Há algum tempo, comecei a prestar atenção nas declarações das moçoilas que participavam de concursos de beleza. Quando chegava na pergunta crucial, aquela do “qual seu livro preferido?”, notei que o fantástico livro “O pequeno príncipe”, de Antoine de Saint-Exupéry, há muito não era mais citado como o tal livro preferido. Naquela época (comecei a prestar atenção aí por 1995) todas (TODAS!!!!) as respostas femininas eram: “meu livro preferido é ‘Se houver amanhã’ de Sidney Sheldon”. E todas falavam isso. Até que um dia comentei com minha mãe e ela disse: “garanto que nem leram. Agora é moda falar desse livro”. Depois de “Se houver amanhã” a moda começou a ser “O reverso da medalha”. Mais tarde mudou para “O outro lado da meia-noite” e “Ira dos anjos”, todos de Sheldon.

Como tantas meninas falavam desses livros, fui ler alguns. Compreendi que Sidney Sheldon (assim como outros autores desse estilo) era um escritor extremamente provocador, emocionante e, até certo ponto, publicitário. Ele conseguia fisgar, conquistar, convencer o leitor a continuar a ler. Mas, livro após livro, a receita era a mesma: a pessoa que sofria igual um cachorro e, através de aventura, drama e sensualidade, vencia e ficava feliz. E o autor dizia que sempre escrevia o que vivia. Todos os livros eram assim, um após o outro. Talvez a Danielle Steel seja mais repetitiva ainda. Não eram livros de literatura fantástica ou romances de cair o queixo. Eram fórmulas, que não deixavam de ser inteligentes, porque, realmente, faziam o leitor ler rápido. Era e é uma literatura para rápido consumo. Uma leitura de praia, de ônibus. Uma leitura popular. Que fazia quem não lia começar a ler. E isso é bom.

Apesar de não gostar da literatura de Sheldon, recebi com certa tristeza a notícia de sua morte. Respeito o fato de o autor ter iniciado sua carreira de escritor nos anos 50, ter produzido mais de 20 livros, escrito musicais, programas para a televisão e roteiros para o cinema. Foi um escritor de massa, que se manteve longe da academia e soube, através de sua literatura clichê, conquistar leitores que, cotidianamente, não tinham contato com a leitura.

Sidney Sheldon morreu de complicações causadas por pneumonia, no Centro Médico Eisenhower, em Los Angeles.

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