31.10.06

Repeteco again: A morte dos pássaros

No começo todo mundo pensou que fosse uma peste. As donas-de-casa se extenuavam de tanto varrer pássaros mortos, sobretudo na hora da sesta, e os homens os jogavam no rio às carradas.

Gabriel García Márquez

Boa parcela daqueles que lêem mais de dois livros por ano no Brasil têm uma triste falha: eles estão acostumados a apenas um modelo de leitura.

Nosso leitor, que aqui não está diferenciado por leitor de primeiro, segundo ou terceiro mundo, está viciado no modelo que lhe treinaram: o realista padrão. O realista técnico. Ele está preso a uma literatura e/ou jornalismo de convenções, ao estilo que constrói, apenas e essencialmente, os modos informativos (como responder o Que? Quem? Quando? Como? e Por que?) e também aos meios de compreensões descritivas (como coisas relacionadas a textos de história, antropologia e economia, escritos naqueles tijolões que ninguém consegue ler sem ficar de mau-humor.). Com este texto não quero criar discrepâncias com estas áreas, mas sim com seus modelos.

O realismo é a maneira mais fantástica de escrever algo. É a realidade que move a cena que, através do livro, se tornará imortal. Pode ser um imortal de gelar a alma, como qualquer coisa escrita pelo (meu) mestre Bukowski. Ou pode, também, ser um imortal ridículo, como os amores de todos os livros da Danielle Steel. O realismo, hoje, mortal e imortal, é o meio mais sensacional de ficção que se tem. No entanto, o realismo padronizado, “tecnicado”, perde toda a sua genialidade.

O realismo dos escritores, dos jornalistas, dos advogados, dos médicos, dos próprios leitores, muitas vezes, é reprimido. Amordaçado por técnicas. Palavras prontas. Os jornais, as revistas, e até, porquê não, as “compreensões descritivas”, deveriam trazer o realismo calçado na criatividade, na imaginação, na fantasia, aquele que mistura os exemplos humanos, o real, com o irreal. O que é normal e o anormal. O possível e o impossível. O leitor precisa ir além daquilo que foi dito. Ele precisa encontrar uma obra que provoque nele um estranhamento. Basta de ler o já lido, como diria Jameson. Already-read, déja-vú. O leitor precisa ir além. Como ir além??? Incitando o leitor, deixando dispositivos para que ele possa ir além, apenas acompanhado do livro, ou do jornal, ou da revista. Como fazer isso numa reportagem?? Leia Fernando Morais e Zuenir Ventura. Como fazer isso na literatura?? Leia “Cem anos de solidão”, de Gabriel García Márquez; o conto “A terceira margem do rio”, do livro Primeiras Estórias de Guimarães Rosa. Além de citar, evidentemente, como autores que fazem o leitor ir além, o mestre Bukowski, Hunter Thompson e Daltro Trevisan. Aqui misturando todas as grandes e geniais farinhas no mesmo saco.

Tudo tem realismo. Mas este, de tão importante, não pode vir sozinho; daí a importância da “realidade” criativa e, também, fantástica, ou, apenas, da humanização e do mágico dos fatos pelos fatos. Os textos precisam misturar o tesão da leitura, da história, do fabuloso e do fantástico, ao circunstancial. Os leitores foram treinados culturalmente para gostar de uma coisa que nem sempre é o que eles gostam.

Um comentário:

Anônimo disse...

Tem gente que vai te odiar por essa! hahaha. Grande Robes!